A importância de se realizar um encontro que discuta questões acerca do cinema gay não minora os riscos impostos. A começar pelo nome: toda vez que se adiciona um aposto ao nome cinema se aglutina uma polêmica Se a qualificação for “gay”, tanto mais. Talvez seja exatamente estes riscos que apontem a importância de se debater um tema que tem recebido pouca atenção acadêmica, mas que transborda vitalidade.
Mas o que seria “cinema gay”? Os conceitos se elucidam sobretudo pelos contornos, à guisa de definições categóricas (felizmente!) e talvez residam mais em questões do que em asservias: E o cinema feito por gays? O cinema que retrata relações ou situações homossexuais? Haveria um repertório comum nas experiências e significações capaz de permitir -e demandar – esta inclusão taxionômica?
Nos últimos anos, o cinema que ousou dizer seu nome se cirou na necessidade expressão de autores que buscavam realizar obras com contundência que ultrapassassem as famosas insinuações, ecos e subtextos que normalmente antecediam a qualificação gay quando se falava de cinema.
Para o bem e para o mal, a criação de um nicho permitiu a reflexão sobre o tema e fomentou a realização de diversos filmes que não se imaginam possíveis sem esta singularidade. Entretanto, o epíteto gay é rejeitado por diversos cineastas que acreditam ser esta singularidade reducionista e prejudicial a uma maior abrangênica de suas obras. E tais contradições clamam por reflexões.
Embora não seja necessariamente o objeto dos debatedores, a obra do inglês Derek Jarman estará sendo exibida nesta edição do MixBrasil. Fortuitamente. Gay retratando gays, recriando linguagem para melhor apropriá-la a temas gays, moderno e modernamente gay, Jarman oferece emblemas de várias questões a serem enfrentadas no debate.
Longe de esgotar essas questões, o debate proposto pelo MixBrasil tentará lançar luz a mais perguntas sobre o tema, com o intuito de deixar a desejar, não pela insuficiência da discussão realizada, mas por incutir a vontade de querer mais e mais refletir o tema de deixar nos participantes o desejo de mais buscar.
Julio Maria Pessoa