As produções artísticas são dispositivos no processo de significação do mundo — por meio delas é possível aquecer uma circulação simbólica capaz de representar e anunciar significados e valores, em acordo ou colisão, que movimentam imaginários e constroem realidades.
Um festival como o Mix Brasil de Cultura e Diversidade se apresenta como plataforma exemplar nesse sentido — de início com o cinema, e atualmente abarcando outras linguagens como as artes cênicas, música e literatura, estimula uma rede de ações comprometidas na escuta e partilha de discursos que reafirmam as diversidades sexuais e de gênero e os direitos humanos.
Poroso e em diálogo com movimentos sociais em intersecção, atua a partir de uma premissa vital: compreender a arte como modo de materializar narrativas em disputa — seja respeitando o progressivo aumento de letras da sigla LGBTQIA+ ou a criação de palavras que buscam nomear sujeitos e subjetividades, seja por meio de representações afetivas, críticas e politizadas que contribuam na elaboração de territórios imagéticos aptos a recuperar a complexidade de vivências e corporalidades frequentemente subalternizadas. Trata-se, então, de um exercício coletivo de combate às políticas de esquecimento: violências que promovem, por exemplo, a ausência de representações e memórias. Nesse sentido, esta ação se organiza como construção potente de espaços, redes de afetos e visibilidades para e com comunidades LGBTQIA+.
Longevo e tradicional na cidade de São Paulo, nesta edição, a iniciativa se afirma como palco democrático para o cinema — tanto o emergente como o consolidado, tanto nacional quanto internacional —, com programações diversas e contextualizadas ao nosso tempo.
A percepção de que a ação cultural pode movimentar o real de modo subjetivo e material orienta o trabalho desenvolvido pelo Sesc, o qual se aproxima dos valores do Festival Mix Brasil. Ambas as instituições têm como horizonte e prática cotidiana o fomento da arte nacional, assim como o estímulo a situações de convívio respeitosas, e a construção de imaginários propulsores de vida e dignidade para as diversidades de pessoas.
Danilo Santos de Miranda — Diretor do Sesc São Paulo